Tentativa fraude deixa concorrentes desconfiados e insatisfeitos

A tentativa de fraude no concurso público para a área de segurança, realizado no último final de semana, deixou as pessoas que participaram do certame bastante preocupadas e insatisfeitas. Primeiro, por conta da tentativa de fraude e, segundo, pela não anulação das provas já que os gabaritos foram divulgados pela Fundação Getúlio Vargas, organizadora do concurso. Muitos dos concurseiros se dedicaram e aumentaram a rotina de estudos na expectativa de conquistar uma das 2.379 vagas das polícias Militar e Civil e do Corpo de Bombeiros.

O estudante Antônio José Azevedo, 17 anos, foi umas das pessoas. Este é o segundo concurso que Antônio Azevedo faz em 2012. O primeiro foi o da Empresa Maranhense de Administração Portuária (Emap) e, segundo ele, não teve problemas como, por exemplo, tentativas de fraudes. Caracterizou essa situação como verdadeira falta de vergonha porque, assim como ele, outras pessoas estavam se preparando por muito tempo para enfim prestar o concurso. "Isso passa uma imagem de desorganização, pois as pessoas passam a ficar desconfiadas em realizar outros concursos, mas eu particularmente não fico com receio; nada disse irá me desestimular", contou o rapaz que se preparou por cerca de três meses para o concurso da polícia e continua estudando, mas desta vez para prestar o concurso do Banco do Brasil, que estar prestes a ser realizado. Antônio Azevedo tinha aula três vezes na semana em cursinho preparatório de 7h ao meio dia. Nos finais de semana, as aulas eram redobradas, pois começavam às 7h da manhã e iam até quase às 22h. Além disso, as horas estudadas em casa contam muito também, "muitos se dedicam bastante para prestar concursos com desejo de passar e daí somos surpreendidos como situações desse tipo, é lamentável", contou o adolescente.

Outra pessoa que também está bastante revoltada com a tentativa de fraude é Hagamenon Bezerra Barroso Neto, 23 anos, embora tenha sabido da má notícia só na manhã de ontem. Ele fez a prova para a Polícia Militar pela manhã e para a Polícia Civil no período da tarde. "Cheguei em casa muito cansado da rotina que estava levando e da realização das duas provas; eu dormi, no dia seguinte fui trabalhar pela manhã e à tarde fui pra UFMA e só soube da tentativa de fraude [ontem pela manhã] no cursinho pelo professor", contou Hagamenon que também é aluno do curso de Educação Física da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

Para ele é preciso que haja um controle maior por conta da banca responsável pela realização do concurso. "Nós, alunos, sempre fazemos investimentos nos estudos, então uma situação como essa é lamentável", disse. O estudante universitário nesse período se matriculou em apenas uma disciplina da universidade para se dedicar integralmente aos estudos relacionados ao concurso. "Por isso me revolto mais ainda; pagamos muito caro pelos cursos preparatórios, isso porque realmente queremos passar em todas as etapas das provas e ter finalmente uma mudança de vida, mas não é isso que acontece", ressaltou. Ele sinceramente espera que as provas sejam anuladas, pois está triste com o esquema apesar de saber que possui fraude na maioria dos concursos brasileiros, "a diferença é que uns são mais visíveis que os outros".

PROFESSOR
Proprietário as três unidades do curso Wellington, Carlos Wellington de Castro Bezerra também falou com a reportagem sobre a tentativa de fraude. Para ele é preciso que não seja feito nenhum tipo de prejulgamento nesse momento, que é bastante delicado. "Devemos aguardar as investigações e definição da Secretaria de Segurança do estado", explica. Para ele o número de pessoas envolvidas no esquema é surpreendente. "É preciso também ter atenção redobrada para não prejudicar o resultado final do concurso e nem a credibilidade daqueles que se dedicaram meses".

Disse ainda que a repercussão dos alunos no curso não é muito boa. O gabarito já saiu e há aqueles que fizeram uma boa prova e não querem a anulação das provas, mas há aqueles que não se saíram bem e já querem que o concurso seja anulado, no entanto, é muito relativo. "É inadmissível que os candidatos que pretendem entrar na polícia ajam dessa forma, ou seja, passem por meio de fraudes; fico imaginando o que eles devem fazer depois que estiverem dentro da academia. É preciso que todas etapas sejam feitas com muito cuidado para não prejudicar pessoas que não tem nada com isso", disse Wellington.

OAB-MA
Em contato com a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Maranhão, a reportagem foi informada de que ainda não tomaram posição sobre o caso, mas o presidente da comissão de exame da OAB contou que em casos desse tipo, o procedimento correto é precisamente o adotado pela Secretaria de Segurança, ou seja, instaurar inquérito para identificar todos os possíveis envolvidos na prática das condutas potencialmente criminosas identificadas para que sejam processados criminalmente, principalmente agora que a conduta de violar de forma fraudulenta o sigilo das informações de concursos públicos foi incluída expressamente no Código Penal pela Lei nº 12.550/2011.

"Em princípio, sendo a anulação de concurso público uma medida de caráter excepcional, só se justifica a sua decretação diante de uma grave violação aos princípios fundamentais do concurso público, como a impessoalidade e a isonomia entre os candidatos", explicou o advogado. Ainda ressaltou que se considerando que houve a oportuna identificação dos responsáveis pela fraude e seus beneficiários, a avaliação de que a decretação da nulidade não se afigura necessária parece acertada.

Fonte: http://www.oimparcial.com.br