quarta-feira, 1 de julho de 2009



Na sociedade contemporânea assistimos um grande avanço tecnológico na área da informática, onde o computador é o principal elemento de transformação desse sociedade pós-moderna, com diz, Rodrigues, estamos vivendo “uma grande revolução econômico-social tão ou mais abrangente que o próprio advento do capitalismo”( RODRIGUES, 2001/2002, p.103) , para ele a internet é um dos grandes “fenômenos” trazido por essa maquina tão incrível que vem mudando paradigmas em todas sociedades detentoras dessas ferramentas tecnológicas, essas mudanças na área comunicação são de “grande envergadura” para toda a humanidade, para Rodrigues:

“as revoluções precedentes, esta também ancora-se numa profunda transformação tecnológica, generaliza-se a partir de interesses econômicos e atinge aspectos culturais, políticos e morais(...), Mais que a evolução linear de novas tecnologias, vivemos desde os anos 1970 uma mudança de paradigma tecnológico, cujas linhas mestras são as novas aplicações econômicas da biotecnologia, da robótica e da informática.” ( RODRIGUES, 2001/2002, p.103).


Com o advento do computador houve um grande avanço nas tecnologias de informáticas e comunicação, na qual a humanidade viu em termos acelerado o crescente desenvolvimento das tecnologias, onde que o computador possibilitou a criação de redes de informações, no ambiente virtual, que posteriormente com a evolução da informática chegou-se a rede mundial de computadores, a Internet, que permitiu as trocas de informações numa velocidade extra-ordinária, que acabou influenciando a sociedade com uma aceleração no processo de desenvolvimento, como diz Guesser, “ as trocas de informações que passaram a ocorrer em uma velocidade sem precedentes na história da humanidade( GUESSER, 2007, p.79) .
Para que possamos compreender um pouco dessa transformação faz-se necessário retornar a evolução histórica do computador, dentro do contexto econômico-social.
As mudanças socioeconômicas trazida pelo capitalismo ao longo dos séculos trouxe alterações significativas para o desenvolvimento da humanidade, principalmente com a I e II Revolução Industrial, nos séculos XVIII e XIX respectivamente, onde a produção de bens e consumo passou de manufatureiras para a industrialização. Com a chegada do século XX, o capitalismo é acometido por uma de suas maiores crises já enfrentada desde sua implantação com modo de produção, a chamada a “Grande Depressão”, que culminou com a queda da Bolsa de Valores de Nova York em 1929, de acordo com Rodrigues:

“ Foi uma crise de superprodução de mercadorias, que resultou em quebradeira geral. O mercado auto-ajustável, que equilibraria oferta e demanda, simplesmente não funcionou, deflagrando uma crise responsável pelo desemprego de milhões de pessoas e pelo alastramento da miséria e da criminalidade, que se espalhou dos Estados Unidos, epicentro vital da crise, para o mundo todo ( RODRIGUES, 2001/2002, pp. 104/105).

Depois de superada toda a crise e seus efeitos, o capitalismo entra numa fase de prosperidade, “Com a expansão econômica de então abriu-se, principalmente nas décadas de 1950 e 1960, o período de maior prosperidade do capitalismo em escala mundial(...) ( RODRIGUES, 2001/2002, p.105), com toda essas mudanças no campo socioeconômico e político iremos assistir o advento da “Terceira Revolução Industrial”, a “Revolução Digital”de acordo com que nos informa Rodrigues, essa revolução “abrange mudanças tecnológicas e organizacionais no mundo da produção, envolvendo áreas como robótica, a informática e a biotecnologia”( RODRIGUES, 2001/2002, p.107). Essa revolução veio transforma os paradigmas da sociedade, onde a parti de então o sociedade mundial vai entra numa era de despertamento tecnológico jamais visto na humanidade, entramos na “era do computador”, Said citando Defleur e Rokeach, nos informa que: “ (...) os computadores já estão nos transformando no que veio a ser chamado de sociedade informatizada. Outrossim, os comutadores e as tecnologias correlatas estão remodelando e prolongando nossos veículos de massa”( DEFLEUR e ROKEACH, apud SAID, 2001/2002,p.124).
O computador foi produzido para fins militares e seu uso estava restrito para as funções bélicas, O ENIAC é tido como o primeiro computador, seu tamanho era gigantesco em relação aos modelos atuais, funcionava através de válvulas, mais tarde é desenvolvido os transistores “que permitiu a comunicação entre as máquinas”. E por último é criado o circuito integrado( Chip) que possibilitou a criação do “microprocessador” que “ através do qual a capacidade de processar informações poderia ser instalada em qualquer máquina”(RODRIGUES, 2001/2002,p.107). A forma que conhecemos hoje com PC, nada mais é que fruto dessa evolução da informática que ao longo de décadas chegou no seu alto grau de desenvolvimento, principalmente com a integração de indivíduos na rede mundial de computadores, a internet.
O fenômeno da globalização foi capaz de integra os povos embora que dentro da lógica do capital os mais bem beneficiados são os ditos “países de primeiro mundo”, mesmo assim o mundo acompanha essas mudanças paradigmáticas que trouxe para humanidade imensuráveis benefícios, a “era do computador” revolucionou as sociedades através de tecnologias, que como diz, Miguel, “ as novas tecnologias tornam possível uma espécie de democracia direta assistida por computador, eliminando qualquer forma de delegação de poder( e todos os vícios a ela associado)” (MIGUEL, 1999/2000, p.135), o que Miguel tenta dizer é que com a tecnologia da informática o mundo torna-se cada vez mais independente e autônomo, onde a nova forma de pensar o Estado está se deteriorando em detrimento da rede mundial de computadores. A internet segundo Miguel, citando palavras de um “ativista” norte-americano, “estaria devolvendo o poder ao povo(antes usurpado pela classe dirigente) e promovendo uma “ciber-insurreição”: ela é o vírus assassino do Estado”( MIGUEL, 1999/2000, p.135).
A era da informática com a chegada da internet tornou o homem mais próximo do outro, onde as relações cada vez se aproximam através do mundo virtual, o elo e liberdade trazida pela internet “ se apresenta hoje como a melhor esperança para a descentralização da produção de informações” ( MIGUEL, 1999/2000, p.139). Freire fala que “ na sociedade contemporânea, a comunicação mediada por computadores interligados em rede gera grande diversidade de comunidades virtuais caracterizando a metáfora da “ Aldeia Global” (FREIRE, 2006,p. 58). Nós vivemos em uma sociedade da informação, no qual as ferramentas tecnológicas alteram as relações do ponto de vista socioeconômico na sociedades do século XX, com diz Guesser:

De fato, esta junção de tecnologias, artefatos e atores sociais compõe novas realidades, cada vez mais complexas e presente no quotidiano das sociedades seja pela inclusão neste mundo cibernético pelas conseqüentes transformações das relações por meio das inovações, seja pela exclusão de tais inovações e pelo déficit gerado no tempo e na capacidade de troca das informações e conhecimentos em comparação com as sociedades mais desenvolvidas ( GUESSER, 2007, p.80).


E esse destaque as essas novas ferramentas tecnológicas se faz devido segundo Guesser “ à valorização da informação e a capacidade de processamento destas e da velocidade de troca que se possa estabelecer” ( GUESSER, 2007, p.80). Devidos a essas etapas de evolução no qual falamos anteriormente nós iremos nos deparar na segunda metade do século XX, com um dos mais proeminentes meios de trocas de informação simultânea e em tempo real, que é a internet, que como nos diz Guesser (2007, p.80), é um dos “meios mais proeminentes na contemporaneidade”, portanto imprescindível para as relações interpessoais das pessoas globais que estão conectadas, embora essa disponibilidade não esteja em alcance de todos, pois há países que não dispõe dessa tecnologia. E a internet torna-se um poderoso veiculo intercontinental capaz de manter uma interatividade sem precedente na história da humanidade.
Guesser faz uma comparação da internet com o universo, ele chama de “galáxia da internet” esse mundo virtual, seria como se a internet fosse o universo com todos os seus sistemas de astros e que o espaço seria infinito, ou seja, a internet estaria disposta para todos os seres virtualmente conectados de forma ilimitada. Que de certa forma essa relação de poder no mundo cibernético, apesar de ser um mundo sem fronteiras, trás em si os poderes hegemônicos para fatiar essa partilha do bolo, veja o que diz Guesser: “o ciberespaço é também um palco de disputas de poder e da busca de contínuo controle social por parte dos poderes hegemônicos do império” ( GUESSER, 2007, p.90).
Observamos que com o desenvolvimento dessas novas tecnologias o mundo ficou sem fronteiras que de certa forma cria uma espécie de cultura do ciberespaço, que com diz Marteleto citado por Freire,
A cultura funcionaria como uma memória que ao conservar e reproduzir artefatos simbólicos e materiais de geração em geração, torna-se a depositária da informação social. Neste sentido, “torna-se o primeiro momento de construção conceitual da informação, como artefato, ou como processo que alimenta as maneiras próprias do ser, representar e estar em sociedade” (MARTELETO, apud FREIRE 2006, p.59).

Para Freire (2006, p.59) essa “socialização da cultura assume o papel relevante para democratização do acesso e uso da informação”, por meio dos computadores, que o acesso as essas informações são imprescindíveis para o desenvolvimento das pessoas, Araújo citado por Freire:

[Pois] se a informação é a mais poderosa força de transformação do homem, [o] poder da informação, aliado aos modernos meios de comunicação de massa, tem capacidade ilimitada de transformar culturalmente o homem, a sociedade e a própria humanidade como um todo ( ARAÚJO, apud FREIRE 2006, p.62)




Dessa forma, a internet é a bola da vez que com sua capacidade de integração mantém os indivíduos conectados, a cada um na sua rede individual mantendo desse jeito as relações interpessoais sem fronteiras e de forma ilimitada a qualquer tempo, fazendo com que o processo de globalização continue ainda mais integrado.

REFERÊNCIA

FREIRE, Isa Maria, Acesso à informação e identidade cultural: entre o global e o local. In Revista do Ci. Infor. Brasília, V.35, nº 02, 2006, pp. 58-67. Disponível em: . Acesso em: 10 mar.2009.
GUESSER, Adalto, A diversidade de lingüística da internet como reação contra – hegemônica das tendência de centralização do império. In Revista do Ci. Infor. Brasília, V.36, nº 01, 2007, pp. 79-91. Disponível em: . Acesso em: 10 mar.2009.
MIGUEL, Luis Filipe, As novas tecnologias e a democratização da informação. In Revista Lugar Comum. nº 09/10, 1999/2000, pp. 132-146.
RODRIGUES, Alberto, Capitalismo flexível e educação em rede. In Revista Lugar Comum. nº 15/18, 2001/2002, pp. 102-122.
SAID, Gustavo, História, comunicação e sociedade na era da informação. In Revista Lugar Comum. nº 15/18, 2001/2002, pp. 123-143.
INTRODUÇÃO

À África ao longo dos séculos ficou fadada ao esquecimento, a sua origem como povo, sua História e sua Cultura permeava na sombra da escuridão, a África era conhecida a partir dos colonizadores europeus, seu povo foi reinventado pela dita raça “Superior” européia, que conseguiu forja no imaginário da população mundial a idéia que o Continente africano era a mas desprezível região da terra. No medievo sob os auspícios da igreja baseado em obras e estudos de pensadores como Heródoto e Claudio Ptolomeu, é desenvolvida a teoria Camita que afirma que os africanos são descendentes de Cão, um dos filhos de Noé, que foi amaldiçoado por Deus, ele e todo sua descendência e com isso sob os olhares e mentalidades dos teóricos medievos a África tornou-se uma terra inóspita de gente monstruosa, seres deformados, incapazes, trogloditas e sem civilização. A História da África ganha força na visão das correntes historiográficas dos séculos XIX e XX, onde iremos abordar essas correntes historiográficas no campo teórico – metodológico, no qual a África torna-se seu objeto de estudo. A partir dessas caracterizações, o presente trabalho terá como objeto compreender como o Ensino da História da África está representado nos livros didáticos do Ensino fundamental. Verificaremos como foram desenvolvidas as políticas educacionais para o estudo africano, e de que forma elas foram introduzidos nos currículos escolares brasileiro, e como a rede de ensino escolar brasileira, está se comportando em meio a nova legislação, baseada nas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, e como ela tem abordado essa nova perspectiva.

A ÁFRICA EM FOCO

A África ao longo de sua história foi marcada por profundas transformações econômicas, sociais, políticas, culturais e religiosas, a sua identidade foi construída a parti de pressupostos teóricos que marcaram profundamente sua história. A construção da identidade africana sofre as más diferentes formas, através de concepções forjadas no imaginário popular, no qual o africano é submetido a discursos da sua vitimização. Para Achille Mbembe (2001,p.171) a África é estereotipada:

a parti de um discurso nativista, por um lado, e outro instrumentalista, da África e de seu povo. Baseado em uma interpretação crítica dos diversos essencialismo construídos em torno de uma suposta leitura pan-africana e consensual do mundo.


Os olhares sobre a África é criado em detrimento de um imaginário exógeno que traz em si uma visão deformada do povo africano visto dentro de uma perspectiva eurocêntrica, de acordo com Mbembe, houve inúmeros motivos que impediram o desenvolvimento das concepções com relação aos africanos e seus significados para que pudessem haver uma compreensão melhor do passado, presente e futuro, ele coloca que se encontrou duas formas de "historicismo" que o arruinaram: "Primeiro, o "economecismo", com sua bagagem de instrumentalismo e oportunismo político; segundo, o fardo da metafísica da diferença" Mbembe(2001,p.173). Segundo ele há duas correntes de pensamentos que são advinda desses pressupostos teóricos, a primeira corrente se apresenta como "democrática, radical e progressista", de linhagem "marxista e nacionalistas", que progrediu para um olhar no imaginário cultural e político, que traz em si " a manipulação da retórica da autonomia, da resistência e da emancipação serve como o único critério para determinar a legitimidade do discurso"africano" autêntico" A segunda corrente desenvolveu-se em detrimento na "condição nativa", onde a ênfase é dada no ideário da unidade africana cujo suporte etnográfico "é o pertencimento à raça negra", que no cerne dessas correntes desenvolveu-se "três eventos históricos: a escravidão, o colonialismo e o apartheid" Mbembe(2001,p.174).
O continente africano por muitos séculos ficou renegado a sombra da escuridão, do esquecimento e do desprestígio. A África foi vista dentro de um espectro eurocêntrico, onde começou a se mostrar na perspectiva do contexto mercantilista europeu, Em seu artigo “ História da África em Perspectiva”, Anderson Ribeiro Oliva diz:

África. Sempre que estudamos o termo, fazemos referencia a uma série de idéias, imagens, preconceitos, conhecimento e ignorância sobre aquela parte do mundo ( OLIVA, 2004, p.11).

O que Anderson Oliva afirma é o que está concebido na mentalidade das pessoas que houve falar da África, essa idéia nos remete a uma compreensão distorcida dos povos africanos, pois a África não resume apenas aos estereótipos eurocêntricos, que a trata como um continente inóspito, formados por povos trogloditas e sem civilização para alguns historiadores da antiguidade. Anderson Oliva citando o historiador grego Heródoto de Helicanarsso, diz que a África é “ a mais remota das regiões habitadas(...), os etíopes( nome dado aos africanos na antiguidade) seriam inferiores, bárbaros – sem civilização e identificado como trogloditas” ( HERÓDOTO, 1998 apud OLIVA, 2004, p.12).
Nos últimos trinta anos essa perspectiva vem mudando os estudos africanos entraram numa era de desperta mento, no qual muitos pesquisadores estão se imbuindo em reescrever a Historia da África, a parti da própria África no seu contexto social, político, econômico e religioso. Anderson Oliva, citando o grande africanista Joseph Ki-Zerbo, mostra essa realidade “não é preciso ser historiador para observar que não se passa mês nenhum no mundo se que sejam publicados vários livros sobre a história da África” ( KI – ZERBO, 1982, apud OLIVA, 2004, p.9).
Após longos séculos a África superar seu isolamento e sai do obscurantismo a que foi submetido pelos colonizadores e se afirma como povo capaz de superar todos os estigmas nefastos que o imaginário europeu o havia imposto. Afirma Fernando Augusto Albuquerque Mourão, " Os povos da África conquistaram sua autodeterminação, superando o isolamento provocado pela intensa dominação colonialista" (MOURÃO,1995, p. 5). A África retoma seu rumo como povo e vai em busca de seu passado para uma melhor compreensão do seu presente, "o avanço da história, ou melhor, a revelação da história da África, permite, sem dúvida, diminuir a importância dos mitos e localizar essa arte na perspectiva do africano"(MOURÃO,1995, p. 7).


A pesar da grande corrida pelos estudos africanos no nível internacional, Anderson Oliva comenta que no Brasil “ o pequeno” volume de “obras publicadas” não acompanha o ritmo internacional, há um latente desinteresse das editoras, dos historiadores e dos leitores, “ a África transitava no esquecimento daqueles que têm por ofício lembrar o que todos esqueceram, os historiadores” Oliva ( 2004, p.10 ). No entanto com a promulgação da Lei 10639/03, que trata da obrigatoriedade dos estudos da África e dos afro-descendentes, essa realidade vem mudando com a inserção de pesquisadores, grupos de pesquisas e as próprias editoras que estão se adequando a essa temática, embora de forma ainda lenta; mas aos poucos a África se incrusta na realidade nacional. Para Anderson Oliva, essa situação de interesse para com a História da África se dá devido a “ formação de pesquisadores a partir de alguns núcleos de pesquisas em História da África existente no país, a fusão cada vez maior de investigações acerca do trafico de escravo com o chamado mundo Atlântico e consequentemente com a África” ( OLIVA, 2004,p.10).
Mas é a partir dos fins do século XIX e inicio do XX que a África tornou-se uma região em busca de sua “identidade”, e seus “habitantes” se embrenharam na busca de suas origens. A concepção da degradação e coisificação do negro é fruto de ideologias preconceituosas, advindas de teorias e intelectuais emaranhado na superioridade racial. De acordo em Anderson Oliva, o geógrafo alexandrino do II século(D.C), Cláudio Ptolomeu, baseado seus estudos geográficos “ dos conhecimentos relativos ao contorno da África” e influenciada pela idéias de Heródoto, teria uma grande “influência decisiva na forma de se pensarem os africanos durante o medievo” ( OLIVA, 2004,p. 13 ). A África foi se tornando no imaginário popular um povo incapaz, com diz Anderson Oliva, baseado nas observações de Cláudio Ptolomeu.

Idéias como o calor intenso e insuportável, as deformações e incapacidades físicas causadas pelo clima e crença de que abaixo do equador somente criaturas com sérias deformações poderiam sobreviver; teriam participação - chave nas explicações dos teólogos e geógrafos medievais sobre o continente. ( ANDERSON,2004, p.13).

As ideologias pertinentes aos africanos de forma pejorativa e desumana ganha forçam a partir do primeiro milênio de era cristã, pela própria Igreja, que nutridas e influenciadas pelas idéias de Cláudio Ptolomeu colocou o negro africano na condição de sub-raça, mas próxima dos macacos, diz a historiadora Emilia Viotti da Costa. “O negro trazido da áfrica para o continente americano e para o Brasil fora submetido a condição de sub-raça, muito próximo do macaco que do homem branco” (COSTA,1999,p.271).
Ainda comentando sobre as teorias de Cláudio Ptolomeu, Anderson Oliva coloca da seguinte forma:

A teoria Camita e a fusão da cartografia de Cláudio Ptolomeu com a cosmologia cristã relegaram a África e os africanos às piores regiões da terra. Segundo o texto bíblico – Cam, um dos filhos de Noé, foi punido por flagra seu pai nu e embriagado. Com a punição, seus irmãos, teriam um pele mais escura que a dos outros homens e habitariam parte do povoamento da terra pós – dilúvio também seriam um elemento integrante das visões de mundo do período. ( OLIVA, 2004,p.13)

Essa idéia de segregação do negro impingida pela mentalidade de desvalorização do africano, é fruto da bestialidade européia mercantilista, vejamos o que dizem alguns teóricos a respeito dos africanos no baixo Saara:

O negro nunca foi tão negro quanto a partir do momento em que dominado pelos brancos ( FANON, 1979, apud OLIVA, 2004, p.11)

A própria categoria do negro é, no fundo, um produto europeu, pois o “branco” inventaram os negros a fim de dominá-los. ( APPIAH, 1997, apud OLIVA, 2004, p.11).

Eram também bastante feios para seu olhar, já que “fealdade era extrema(...) não se podia pintar coisa mas féia”( ZORARA, apud OLIVA, 2004, p.14).

Todo esse arcabouço com relação aos africanos é disseminado por viajantes e missionários, exploradores e militares, que através de seus escritos, crônicas, diários, relatórios e outros meios serviriam como fontes de informações para se conhecer um pouco o continente africano em meados dos séculos XV e XVIII. Essa visão preconcebida pelos europeus em relação aos povos africanos abaixo do Saara, permeava na mentalidade dos europeus, “ monstros, terras inóspitas, seres humanos deformados, imoralidades, regiões e hábitos demoníacos iriam ser elementos constantes nas descrições de viajantes e missionários” (OLIVA, 2004, p.13 ). Reforçando ainda essa ideologia “ duas encíclicas papais” datada “ do século XV” , afirmava que os monarcas da coroa real de Portugal, tinha todo o “ direito de despojar e escravizar eternamente os maometanos, pagãos e povos pretos em geral” ( OLIVA, 2004, p.14). Ainda comentando sobre a desvalorização dos negros africanos abaixo do Saara, Anderson Oliva diz: que

“ os relatos deixados pelos viajantes árabes ou mulçumanos sobre o Sudão, encontram-se idéias e descrições parecidas . Influenciadas por pensadores da antiguidade, eles acreditavam que o calor seria responsável pelas “ deformações” físicas- cabelos e barbas crespos- dos africanos. O próprio termo Sudão de origem árabe, significa a “ Terra dos homens negros” ( OLIVA, 2004,p.16).

O “autor árabe Al Kind”, citado por Anderson Oliva, relatava que o país era quente, “ os corpos celestes exerceram sua influência e atraem os homens para as partes superiores do corpo. Daí os lábios pendentes, o nariz achatado e grosso(...) a ausência de inteligência” ( AL KIND, apud, OLIVA, 2004,p. 6).

A descriminação o preconceito e a desumanização do negro, ainda no século XIX são latentes, a teoria cientifica poucos contribuíram para os africanos saírem do submundo ideológico a que foram submetidos aos séculos anteriores; de acordo com algumas crenças cientificas “originadas das concepções” darwiniana e do “ determinismo racial”, submeteriam os povos africanos a condição de últimos nos “ degraus da evolução das “raças” humanas”( 2004,p.17). Essa compreensão ainda norteava as os estudiosos do século XIX, vejamos o que diz Richard Buton, citado por Anderson Oliva.

O estudo da psicologia na África Oriental é o estudo da mente do homem rudimentar(...) Ele pareceria mais uma degenerescência do homem civilizado do que um selvagem(...) não fosse sua incapacidade para o aperfeiçoamento(...)Na estrada uma multidão de preguiçosos (...) seguirá a caravana pó horas; isto é um espetáculo verdadeiramente ofensivo (...); essas figuras grosseiras (....) e seus gritos lembravam uivos de bestas mais do que qualquer esforço de articulação humana( BUTON, 1995, apud OLIVA, 2004, p.17).


A HISTORIOGRAFIA AFRICANA

As informações sobre as divisões e classificações da historiografia africana, Anderson nos informa que esses estudos foi realizado pelo africanista (guineense) e cientista social Carlos Lopes, que será usado como referencial teórico. De acordo com o que nos informa Anderson Oliva, Lopes afirma que existe “três grupos” distintos de teóricos, que fora agrupados por “afinidades” as “diversas investigações” ou “falas” realizadas sobre a África a partir do século XX. Dentre as correntes historiográficas temos: A Corrente da Inferioridade Africana(1840-1950), a Corrente da Superioridade Africana(1950-1970) e a Corrente da Nova Escola de Estudos Africanos(1970 em diante).
A Corrente da Inferioridade Africana seria “ identificada pela negação da historicidade dos africanos”. Dentro dessa visão os povos africanos seriam “ incapazes de fazer e contar suas historias”, seria um povo a histórico, que já reforçado pelos postulados teóricos, endossariam ainda mais, os “africanos como primitivos e inferiores”(OLIVA, 2004, p. 18).
A Corrente da Superioridade Africana- Após o período da independência do Continente africano, alguns intelectuais e estudiosos da própria África, encabeçariam essa corrente. Paras eles a África “ possuiriam todos as qualidades apresentadas pelas populações de outros Continentes e de que a África, de região periférica, passaria a ser pensada como região central da humanidade (OLIVA, 2004, p.18/19).
A Corrente Nova Escola de Estudos Africanos - Deforma mas sistemática, metodológica esse grupo a três décadas expandiria de maneira profissionalizante as investigações das “ temáticas africanas”. O grande numero de pesquisadores “africanos e africanistas” tem aumentado na especialização dos estudos africanos “ por áreas e temas, como epidemias, escravidão, gênero e religião, e de uso de fontes especificas, como tradição oral e os vestígios arqueológicos( OLIVA, 2004, p. 19).

O ENSINO DE HISTORIA DA ÁFRICA

Com a promulgação da Lei 10639/03, que obriga o ensino da História e Cultura Afro-brasileira, bem como o estudo da África e dos africanos, vem ganhando impulso na educação brasileira, embora de forma lenta, mas está havendo alguns avanços no que tange ao ensino africano nos currículos escolares. Em sua tese de doutorado, Anderson Oliva coloca que “ a presença dos estudos africanos nos currículos e no livros escolares brasileiros, até meados de 1990, podem ser considerado insignificante” ( OLIVA, 2007, p. 199). O quadro passou a modificar-se a partir da publicação do Parâmetro Curricular Nacional (PCN) da área de História, em 1998 e 1999; os livros didáticos de Historias das 5ª a 8ª series do ensino fundamental, tinha pelos menos um capítulo incluído sobre a História da África, embora atrelada somente ao período, que vai dos séculos VII ao XVIII, diz Anderson Oliva. Ele ainda aponta que em suas pesquisas não encontrou nenhuma coleção de livros didáticos a respeito da História da África, que trata-se de sua história antes da chegada dos europeus.
Com o advento da Lei 10639/03, foram tomadas outras medidas no sentido de intensificar o ensino africano nas escolas brasileiras, dentre elas temos as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico – Raciais e para o Ensino de História e Cultura afro-brasileira e Africana. O outro foi o Guia do Livro Didático, que tem por responsabilidade avaliar os “manuais” das séries finais do ensino fundamental.
De acordo com Anderson Oliva em sua tese, os estudos que estão relacionados nos manuais escolares pouco têm a dizer sobre a História da África.

Apesar de apontarem de forma mais substanciada para possíveis temas e objetos a serem tratados nas salas de aula, e, conseqüente, nos manuais escolares, os textos citados dedicam pouca atenção à África, concentrando suas propostas nas questões relacionadas aos estudos da história e cultura afro-brasileira( OLIVA, 2007, p. 208).

Como se observa o ensino da África fica ofuscada pela cultura afro-brasileira, e essa temática está intrínseco nos livros didáticos, Anderson Oliva nos informa que o Conselho Nacional de Educação ficou responsável para especificar e regulamentar as normas e temáticas a respeito do ensino africano, e que o conhecimento e a valorização da história dos povos africanos:

Deveriam ocorrer em todos os níveis e modalidades do ensino brasileiro como conteúdo de disciplina, particularmente, Educação Artística, Literatura e Historia do Brasil ( OLIVA, 2007, p. 209).

As Diretrizes de acordo com Anderson Oliva, sinalizam a necessidade de inclusão nos cursos de formação de professores e profissionais de Educação, de “ materiais e de textos didáticos, nas perspectiva(...) de estimular o “ ensino e aprendizagem da História e Cultura afro – brasileira e dos africanos” ( OLIVA, 2007, p. 211).
No texto das Diretrizes Curriculares sobre o ensino africano, afirma categoricamente que trata de uma decisão política o ensino africano:

Com esta medida, reconhe-se que, além de garantir vagas para negros nos bancos escolares, é preciso valorizar devidamente a História e cultura de seu povo, buscando reparar danos , que se repetem há cinco séculos, à sua identidade e a seus direitos( DIRETRIZES CURRICULARES, p.17).

Como se pode notar as determinações são bastante contundente com relação ao ensino da África, ela tenta buscar um identidade africana perdida a séculos atrás, e dessa forma as Diretrizes fazem com que haja uma supervalorização da História africana e dos afros – descendentes em toda rede de ensino do Brasil e por conseguinte estimular e incentivar os pesquisadores a trabalhar com afinco nos estudos africanos. Ainda falando das Diretrizes, ela coloca alguns princípios orientadores, vejamos alguns deles:
► O desencadeamento de processo de afirmação de identidade, de historicidade negada ou distorcida;
► O rompimento com imagens negativas forjadas por diferentes meios de comunicação, contra os negros e os povos indígenas;
► O combate a privação e violação de direitos.

CONCLUSÃO

Em suma, compreendemos e aprendemos que com a introdução da Lei 10639/03, a África e seus descendentes ficou mais próxima de nós, obras, pesquisas, cursos de pós-graduação, grupos de pesquisas, as próprias Universidades tentam de certa forma ampliar o universo da História africana e dos afro-brasileiros, esse avanço vem ocorrendo graças à lei que obriga o ensino africano nas rede escolar, no qual acredita-se que num curto prazo o ensino da História da África estará disseminado em toda rede escolar brasileira, fazendo com a cultura e história africana ganhe o seu devido lugar na historiografia brasileira, preenchendo uma lacuna que durante séculos ficou na sombra da escuridão e nos escombros do esquecimento, porém essa nova perspectiva e realidade só veio contribuir de forma positiva para inserção do ensino africano na mentalidade do povo brasileiro.

REFERÊNCIA

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria Especial de Políticas Públicas de Promoção da Igualdade Racial. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico – Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro – Brasileira e Africana. Brasília: MEC, 2004.
CASORIN, Severino. Monografia e tese passo a passo. Rio de Janeiro: Sotese, 2002.
COSTA, Emília Viotti da. Da monarquia à república: momentos decisivos. 7. ed. São Paulo Unesp, 1998.
DIÉGUES JÚNIOR, Manoel. A África na vida e na cultura do Brasil. Nigéria: [s.n], 1977.
LEI nº 10639, de 9 de Janeiro de 2003.
MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de metodologia científica. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2003.
MBEMBE, Achille, As formas africanas de auto-Inscrição. In Revista Estudos Afro-Asiáticos, ano 23, nº 1, 2001, pp. 171-209. Disponível em: . Acesso em: 3 set.2008.
MOURÃO, Fernando Augusto Albuquerque, Múltiplas faces da identidade africana. In Revista do Centro de Estudos Africanos, USP, S. Paulo, nº 18-19, 1995/1996, pp. 5-21. Disponível em: . Acesso em: 3 set.2008.
OLIVA, Anderson Ribeiro. Lições Sobre a África: Diálogo entre as representações dos africanos na imaginário Ocidental e o ensino da história da África no mundo Atlântico (1990 -2005). Tese(Doutorado).Brasília – DF, Universidade de Brasília, 2007.

______. História da África em perspectiva. Revista Múltipla, União Pioneira de Integração Social.UPIS, Brasília, ano IX, nº 16, junho de 2004, pp. 9-33. Disponível em: . Acesso em: 3 set.2008.
PEREIRA, José Maria Nunes. O continente africano: perfil histórico e abordagem geopolítico das macrorregiões. Rio de Janeiro: UCAM/CEAA/CCBB, 2003.
PRESTE, Maria Luci de Mesquita. A pesquisa e a construção do conhecimento científico: do planejamento aos textos, da escola à academia. São Paulo Respe, 2003.
SALMON, Délcio Vieira. Como fazer uma monografia. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
SANTOS, Raimundo Antônio dos. Apresentação gráfica de pesquisas científicas. Curitiba: Editorificação Eletrônica, 2002.

FREIRE, Ana Maria Araújo. Analfabetismo no Brasil: da ideologia da interdição do corpo à ideologia nacionalista, ou de como deixar sem ler e escrever desde Catarinas ( Paraguaçu ), Filipas, Madalenas, Anãs, Genebras, Apolônias e Gracias até os Severinos. São Paulo: Cortez, Brasília, DF: INEP, 1989. ( Biblioteca da Educação. Série I. Escol; v.4).



O analfabetismo é um dos grandes males, que assola as sociedades mundiais, em especial as dos países pobres com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), onde o número de analfabetos são exorbitantes. No Brasil, esses índices chegam a cifra de milhões. A autora analisa os fatos sob “[...] a luz das circunstâncias sócio-politico-econômicas e, portanto, históricas, nais quais ocorreram” (FREIRE, 1989, p.13).
A obra tenta elucidar a gênese da educação brasileira, onde mostra como essa herança cultural educativa chega até o século XXI; colocando que o analfabetismo brasileiro continua a ser reproduzido em detrimento de uma sociedade elitista, preconceituosa, injusta e com concepções discriminatórias.
As análises são fundamentadas em documentos primários, que são baseados em relatórios e propostas de Reformas na educação; descreve ainda a ideologia da interdição do corpo, vinculada a uma noção pecaminosa, exclusão das mulheres, índios e negros aos ambientes escolares, bem como toda uma estrutura escolar desenvolvida para a elite brasileira vigente.
O texto inicia-se com uma breve síntese do período colonial, que vai de 1534 a 1850, onde Freire busca na historiografia brasileira, desvendar as raízes do analfabetismo, que têm como pano de fundo um modo de produção escravista, que segundo ela: “Estabeleceu-se, então a estrutura de produção no Brasil sobre o tripé-escravidão negra, latifúndio e regime colonial ( produção de açúcar destinado ao mercado externo e monopólio comercial” ( FREIRE, 1989, p.21).
Com a instalação da colonização, devido a sucessivas e iminentes invasões estrangeiras, através das capitanias hereditárias e logo depois o Governo Geral, Portugal passa a controlar o poder político e econômico da colônia, e sobre os auspícios da coroa são introduzidos no Brasil as primeiras levas de jesuítas, no ano de 1549, com “a tarefa determinada de instruir e catequizar o índio” ( FREIRE, 1989, p.22).
A educação no período do modo de produção escravista, conforme Freire, são divididas em cinco momentos:
1) Período da instalação das capitanias hereditárias ou de nenhuma preocupação com a educação escolarizada (1534-1549);
2) Período Jesuítico ou do início da ideologia da interdição do corpo (1549-1759);
3) Período Pombalino ou da remodelação iluminista (1759-1808);
4) Período Joanino ou do inicio da instalação do aparato burocrático do Estado brasileiro e da educação escolar como necessidade deste (1808-1822);
5) Período pós-autonomia ou da inexistência de um sistema educacional próprio do Estado Nacional (1822-1850).
Freire (1989) coloca que com o advento dos jesuítas na colônia portuguesa, houve uma certa preocupação com a população indígena concernente a educação, pois dessa forma a ideologia poderia submeter essas pessoas: “[...] a preocupação pela educação surgiu como o meio capaz de tornar a população dócil e submissa, atendendo à política colonizadora portuguesa (FREIRE, 1989, p.28).
O texto nos informa de que forma os jesuítas foram instalados e quais suas funções e a quem servia esse tipo de ideologia. Fica bem claro quais as verdadeiras intenções dos jesuítas nas terras brasileiras: “Tomé de Sousa traz consigo quatro padres e dois jesuítas liderados por padre Manoel da Nôbrega, elementos imprescindíveis à inculcação ideológica que serviria a espoliação da colônia e a grande produção açucareira” ( FREIRE, 1989, p.28 ).
Com a preocupação da educação pelos jesuítas a partir de 1549-1570, de acordo com a autora é nesse período que são abertas as primeiras escolas para os nativos e para os:
[...] filhos dos colonos – brancos e mamelucos – para o aprendizado de língua portuguesa, da doutrina cristã, do ler e escrever, do canto Orfeônico, da música instrumental, do teatro, da dança, aprendizado profissional e agrícola e das aulas de gramática para os mais hábeis, conforme o regimento de D. João III (FREIRE, 1989, p.34).
É nesse período histórico que ela diz, que a educação brasileira seguia as linhas didático-pedagógica da Companhia de Jesus, que no ano 1599 publica o Ratio Studiorum, plano educacional, em todo o mundo; que de forma rígida, conservadora e inflexível, fora aplicado no Brasil, sem as devidas adaptações, conforme nossa realidade. E que é somente no ano de 1832 que surge sua primeira reforma. O Ratio Studiorum trazia em seu arcabouço os “ [...] cursos de filosofia, teologia e humanidades, em detrimento do ensino elementar. O latim e o grego eram disciplinas dominantes” (FREIRE, 1989, p.35 ).
Ela assevera que esse tipo de ensino serviria quase que exclusivamente as elites agrárias dominantes, portanto os jesuítas não tinham preocupação com a alfabetização e nem tampouco com a gratuidade do ensino para todos.
E para finalizar esse período educacional fundamentada no ensino jesuítico, ela nos informa que: “[...] os jesuítas nos legaram um ensino de caráter literário, verbalista, retórico, livresco, memorístico, repetitivo, estimulando a emulação através de prêmios e castigos e que se qualificava como humanista clássico”( FREIRE, 1989, p.41 ).
Freire (1989, p.42) aponta ainda que após a expulsão dos jesuítas, pelo Marquês de Pombal, ato justificado pelo “Escolaticismo medieval jesuíta, em contraposição ao iluminismo dos filósofos modernos”. Ela diz que Pombal com sua reforma pretendia tirar Portugal do atraso cultural e econômico, que para os lusitanos trouxe benefícios, todavia o Brasil retrocedeu com relação a educação, pois “ ficou treze anos sem escolas e os cursos seriados jesuítas, foram substituídos pelas aulas avulsas”( FREIRE, 1989, p.42 ), sem o devido rigor didático jesuítico.
É com Pombal diz a autora, que tivemos alguns avanços na área educacional como: A Real Mesa Censoria (1772 ), o fundo escolar (1712 ), aulas de filosofia e latim (1774 ), oito disciplinas relacionadas com humanas. Nesse período houve uma sistematização do ensino superior, médio e primário, onde as “aulas avulsas” ou aulas Régias eram dominantes, e é dentro dessa política pombalina que é criado o primeiro colégio para as meninas das Casas Grandes e Sobrados” ( FREIRE, 1989, p.43 ), e a partir desse momento que o ensino no Brasil é oficializado pelo Estado português.
Freire tece comentários sobre o Período Joanino, e qual importância teve para a educação brasileira. Ela, comentando essa época histórica, diz que: “houve uma preocupação imediata e profissionalizante com o ensino” (FREIRE, 1989, p.44 ), com a intenção de preparar pessoas para exercerem cargos na capital da colônia.
As aulas avulsas e do nível secundário e de ler e escrever continuaram sendo ministrada, porém, é instituído o ensino profissionalizante no Brasil, em detrimento de um aparelho burocrático estatal.
Comentando sobre o período pós emancipação política, diz ela, que a estrutura produtiva permaneceu a mesma, com o tripé da sociedade aristocrática, a “escravidão, latifúndio e monocultura para exportação”( FREIRE, 1989, p.45 ). Com a constituição imperial, outorgada por D.Pedro I, traz em seu art. 179, inciso XXXII, a seguinte redação: “a instrução primaria é gratuita a todos os cidadãos” ( FREIRE, 1989, p.46 ), embora que ela diga esses preceitos legais e liberais na prática não surtiu efeito.
De acordo com a autora, um projeto de lei de autoria de Januário da Cunha Barbosa, trazia em sua essência um plano de ensino público integral em todos os níveis de ensino; criaram-se cursos jurídicos em Olinda e São Paulo para a demanda do Estado Nacional e o ensino para as escolas de primeiras letras, que por mais uma vez o ensino estava a serviço de uma elite dominante.
Freire ainda descreve como era o ensino das escolas de primeiras letras, durante o primeiro império; fala que a educação era de dois a três anos, para os homens havia no currículo ler, escrever e as quatro operações aritméticas, noções de geometria, gramática portuguesa e princípios de moral e doutrina Cristã; no caso das mulheres era excluídos a geometria e resumia-se as quatro operações aritméticas, e ainda era “ acrescentado as prendas domesticas”( FREIRE, 1989, p.49 ). A partir de 1827 é instituído o método lancasteriano, chamado de ensino mútuo, que se caracterizava em dividir a classe entre decuriões e discípulo, sob os auspícios do monitor, supervisionado pelo professor, selecionado entre os melhores alunos da classe para exercer tal função.
Freire conclui esse período de 1534-1850, dizendo que essa estrutura social não privilegiava a educação em detrimento de uma classe dominante, na qual seus conteúdos eram, “alienantes e de concepção elitista” (FREIRE, 1989, p.57), que “fecundado pela ideologia da interdição do corpo, que excluía das escolas o negro, o índio e quase a totalidade das mulheres, gerou, inexoravelmente, um grande contingente de analfabetos ( FREIRE, 1989, p.57).
Na parte II do texto, Freire refere-se ao período de 1850-1930, no qual ela contextualiza a educação dentro de uma perspectiva política, econômica e ideológica.
Esse período compreende uma época de grande desenvolvimento da economia, do país, pois o café o principal produto de exportação dinamizava todas as relações sociais, que conjugado com o processo industrial no início do século, levou o país a implantar por definitivo o capitalismo.
A seguir, a autora, coloca de forma categórica as várias reformas, decretos e relatórios concernentes a educação. Ela cita a reforma de Couto Ferraz, que “aprova o Regulamento para a reforma do ensino primário e secundário do município da corte”(FREIRE, 1989, p.90). Essa Reforma traz em síntese algumas normas de “validade nacional”, que tinha como atribuições o controle da aberturas da rede privada, com objetivo de inspecionar as escolas publicas e privadas no ensino primário e secundário, realização de exames para medir a capacidade dos professores e coordenar de modo geral o ensino primário e secundário. Ela conclui dizendo que houve uma continuação da política, herdada da herança jesuíta, com preocupações da interdição do corpo, que visava coibir quaisquer atitudes referente com a sexualidade, por isso a escolarização ficou a mercê dos dominantes, que execrando o negro, o índio e boa parte das mulheres da escola, “gerando número enorme de analfabetos, embora a constituição imperial falasse que a instrução primaria seria gratuita a todos os cidadãos. Função de Estado autoritário, discriminador e elitista (FREIRE, 1989, p. 95 ).
Freire aponta que o Decreto de Leôncio Carvalho (1878), é muito importante para compreensão do analfabetismo, que fora criado curso noturno para adultos, nas escolas publicas de ensino primário.
Rui Barbosa é apontado por Freire, com relator da comissão de instrução da câmara, ele “escreveu pareceres sobre o decreto de Leôncio de Carvalho e apresentou Projeto de lei para a educação nacional” (FREIRE, 1989, p.112 ), porém de nada adiantou como ele dissera que “ serviu tão somente, ao mofo e traças”( BARBOSA, 1947 apud FREIRE, 1989, p.112 ).
Ela afirma que no final do século XIX, surgiram três correntes ideológicas na educação, e que ainda no hodierno essas correntes influenciam nossa educação; essas correntes são: Católico-conservador, liberal e positivista.
E concluindo esse período, Freire fala que existiram avanços na educação, mas foram de forma gradativa, e as mudanças ocorreram, no entanto as transformações não, para ela a “sociedade civil e política brasileira deste período supervalorizou a educação primária como principal instrumento para disciplina, ordem e progresso (FREIRE, 1989, p. 222 ).
SANTO AGOSTINHO
Em meio ao esfacelamento do império romano, deflagrada pelos povos bárbaros, e com o desenvolvimento da cristandade, na qual fora concedida liberdade de culto, por ordem do imperador Constantino(280-337), através do edito de Milão, que depois é oficialmente sagrada como religião oficial do Estado romano; devido as divergências teológicas, é estabelecida a ortodoxia da doutrina cristã, no Concilio de Nicéia(325), convocado pelo imperador romano, Constantino. Nesse clima de turbulência política, econômica, social e religiosa, nasce na cidade de Tagaste, província romana da Numídia(África), hoje Argélia, o grande pensador da Igreja cristã, o Santo padre e bispo de Hipona Agostinho (354), que inicia seus estudos na cidade natal, porém seu pai no intuito de da uma educação mas aprimorada, o envia para Cartago, onde concluiu seus estudos superiores e tornou-se professor de retórica.
Santo Agostinho teve uma vida marcada na sua mocidade, por crises existenciais; em sua obra Confissões, narra de forma meticulosa toda sua trajetória, até encontrar a “felicidade e a certeza da verdade”, através da fé. Nesse período de perturbação existencial, ele procura se encontrar na filosofia de Cícero, e uma versão latina de categorias de Aristóteles, onde aderiu ao maniqueísmo, crença baseada em dois princípios absoluto que nos norteariam o universo: O bem e o mal. Desencantado com o maniqueísmo, buscou as concepções neoplatonica, onde foi tomado por profundo ceticismo, no entanto sua influência que marcaria para sempre, veio de Santo Ambrosio, que lhe mostraria o caminho da fé.
O cristianismo depois de consolidado pela sua ortodoxia, buscou no domínio da razão corroborado pele fé sua afirmação doutrinaria. Os pais da Igreja desenvolveram a filosofia patrística, que tinha em seus princípios básicos unir a fé de argumentos filosóficos; e tem em Agostinho uma das personagens mas proeminente e defensor dessa conciliação entre razão e a fé, que ele chama de “filosofia Cristã”. Agostinho tentar restaurar a fé por meio da razão, ele acredita que “o conhecimento da verdade” é fato, e que isso é provado pelas operações matemáticas e lógica que são irrefutáveis. Para ele o homem e sua razão possui mentalidade e podem perecer, porque a verdade é eterna, e somente Deus um ser eterno pode assegurar essa verdade. A busca dessa razão encontrará a fé no ser supremo que é Deus, e é através da fé que a razão resgatará sua essência, para ele tem que “compreender para crer, crer para compreender”.
Para Agostinho a filosofia serve como veiculo auxiliador que objetiva a uma finalidade transcendental as suas próprias limitações, o seu pensamento filosófico misturado da fé divina; ele tentar elucidar a verdade, no qual ele conseguiu sistematizar concepções do mundo, do homem e de Deus, e que por séculos tornou a base teológica da Igreja Católica. Ele concebe a Deus como transcendente absoluto e indivisível, que não há nada comparado a sua essência perfeita e eterna.
A concepção agostiniana de Deus, perpassa o racional humano, ele o vê como sendo um Deus Único, que subsiste em três pessoas distintas(trindade), o Pai, é a essência divina; o Filho, é o verbo(palavra); o Espírito Santo é o amor divino que cria tudo que existe. O homem como sendo a imagem e semelhança de Deus, está provido da mesma essência tricotômica divina, o cosmo e tudo que nele há segue também de forma semelhante a trindade, ou seja , se manifesta de várias maneiras, sempre em tríade. O universo é constituído de coisas inanimadas e animadas e que esses seres vivos e inteligentes que é o homem está provido de corpo, alma e espírito, portanto ele é tricotômico e as demais coisas seguem essa tríade.
A ordem do universo é bela, pois é obra do divino, para Agostinho o mal não existe em sim mesmo, o que ocorre é um distanciamento de Deus, que isso se traduz no homem o pecado, e que este pecado alterou a ordem divina, no qual tornou o homem serve do pecado. Ele acredita que a livre vontade humana fora perdida, portanto ele ficou impotente para buscar sua própria salvação, ou seja, o homem perdeu o seu livre-arbítrio, o direito de escolher sua salvação, ela já não depende da vontade humana, e sim de Deus. As boas obras não são mas meios de se chegar a salvação. O homem não escolhe a Deus, mas é Deus quem o escolhe, o elege conforme o beneplácito de sua vontade. Ele vê na predestinação a soberania de Deus, onde o homem é salvo pelo decreto de Deus, através da eleição divina.

SANTO TOMÁS DE AQUINO
Durante todo o período medieval a Igreja católica reinou de forma absoluta no modo de viver e pensar a sociedade européia, sua influência irá ser tão grande que reinos e monarcas estavam sob seu auspícios; dominou de forma ideológica todo pensamento, norteou todos os rumos e direções da sociedade em detrimento da fé cristã.
A filosofia continua intrínseca a fé, a razão ainda permeia os domínio da fé, a era patrística vai perdendo sua influencia para uma nova escola filosófico-cristãs, a escolástica, que tem em Santo Tomás de Aquino seu maior pensador.
Tomás vê a filosofia como instrumento que deve servi a fé, que ela deve subordina-se a ela; para ele quando a razão e a fé estão em conflito, a razão sempre está equivocada. Ele acredita que não há conflito entre fé e razão, ao ponto de desacreditar na existência de Deus. A razão por várias maneiras “atinge o conhecimento da existência de Deus”, a razão que abri o entendimento, a compreensão e a fé que as revela estão em harmonia sem que haja contradições entre si, elas são apenas distintas, porém expressam a mesma verdade; para ele embora se conceba Deus com ser dotado de perfeição, não está garantido sua existência, a definição de Deus como soberano perfeito é apenas uma idéia, e nada garante que uma idéia possa existi de fato.
Se apropriando da filosofia aristotélica, Tomás tentar convergir o pensamento de Aristóteles para fé cristã. O mundo segundo ele, “ sensível, percebido pelos sentidos”, que este mundo está em movimento. Segundo Aristóteles, nada se move por si só, e que a causa do movimento é causada, e é necessário admitir que existi uma causa absoluta imóvel e primeira, para ele há um motor imóvel no universo, que Tomás irá dizer que esse motor é Deus.
Para Tomás, existe um domínio em comum entre a fé e a razão, e que é necessário que haja uma demarcação de forma precisa nesse território da razão, para que ele não ultrapasse a fé e possa desenvolver-se dentro de sua limitação, segundo ele esse domínio seria o ser. Para ele o conhecimento racional procede primeiramente dos sentidos, no qual das sensações o “intelecto abstrai a individualidade das coisas, depurando-lhe a material. O resultado são as formas”. O intelecto para ele deferência de dois tipos, segundo o pensamento aristotélico; o intelecto possível e o intelecto agente, este absorve dos sentidos as imagens das formas que se encontra como potência, responsável pelo conhecimento efetivo das formas. Tomás acredita que o homem é provido desses dois intelecto que constituem a sua alma individual, a forma de seu corpo. Esse pensamento é necessário para justificar o dogma cristão da imortalidade da alma. Que segundo ele, está individualidade da alma faz com que o homem tenha sua livre escolha e seja responsáveis e donos dos seus próprios atos, ou seja, o “ único responsável pelo pecado”, para ele o intelecto é inseparável do homem e que a alma possui individualidade. Ele indica a natureza da moralidade e das virtudes, e que a vontade do homem está limitada pelo pecado, ainda que o homem não esteja completamente determinado para o mal. Nesse ponto ele rompe com Agostinho, para que a vontade humana está impossibilitada de ajudar o homem a mover-se na direção de Deus. No qual a regeneração é uma obra exclusiva do Espírito Santo, o homem sendo criado a imagem e semelhança de Deus e livre para escolher o bem e o mal, porém este homem optou em pecar, a vontade dele foi corrompido pela queda, e foi considerado fatalmente depravado e incapaz de usar a sua vontade concernente a salvação.

REFERÊNCIA

CAIRS, Earle E. O Cristianismo através dos Séculos : uma História da Igreja Cristã. 2. ed. São Paulo, Vida Nova, 1995.
OS PENSADORES. Platão: Vida e Obra.São Paulo– DF, Editora Nova Cultural, 1999.

­­______. Agostinho: Vida e obra. São Paulo– DF, Editora Nova Cultural, 1999.
______. História da Filosofia. São Paulo– DF, Editora Nova Cultural, 1999.