O Silêncio que incomoda

Vivenciamos no ano de 2011 uma das maiores movimentações de policiais e bombeiros militares da história das Corporações no Maranhão. Após décadas de inércia dos governos estaduais, que passaram pelo Palácio dos Leões, os militares irromperam essa morbidez apática. O Movimento começou nos idos de janeiro daquele ano. As lutas classistas remontam desde o século passado, elas não começaram em 2011 e muito menos em 2009 como crê alguns. No ano de 1922 temos um dos primeiros movimentos reivindicatórios. Na época, um oficial da PM do Estado depôs o governador. O Capitão Manoel Aurélio Nogueira comandou a deposição do governador Dr. Raul da Cunha Machado. Segundo o livro, Polícia Militar do Maranhão: Apontamentos para sua história, não se sabe ao certo os reais motivos da deposição, acreditasse que tenha sido por influencias do partido político Republicano municipal ou a tese mas provável a insatisfação dos oficias e praças com o governo. Havia um “descontentamento” geral das praças, principalmente quando seus salários não eram pagos “quando em serviço no interior”. “Sem uniforme, sem calçados, sem camas, mal acomodados, não havia dentro do quartel do Corpo Militar quem se mostrasse satisfeito com o Governo” (Polícia Militar do Maranhão: Apontamentos para sua história). O Capitão Nogueira, em vista do ambiente hostil ao governo não teve dificuldade para fazer a revolução no Estado. Ele prendeu o Comandante da Força Policial, Tenente Coronel Gusmão e o Sub-Comandante, Major Ulisses que não aderiram o movimento. Na década de 1950, outro oficial e novamente um Capitão PM, Antônio Alves Godim reivindicou e desafiou a hierarquia militar. De acordo com Domingos Vieira Filho, A Polícia Militar do Maranhão: Síntese histórica, nos revela que do dia 03 de maio de 1956, houve um levante comandado pelo o referido oficial. Para o auto o levante foi frustrado, “a frente de alguns homens tentou aplicar um golpe de força para desalojar de palácio o governo interino.(...) prevaleceu o espírito da corporação que não se deixou tocar pelos arroubos de um oficial trabalhando por paixões políticas, Domingos Vieira Filho. Claro que o autor foi de certa forma tendencioso em sua suas colocações. Ele não explicou os motivos do levante, mas acredito que foram os mesmos de 1922. Desvalorização dos militares por parte do governo do Estado. A década de 1970 teve o Cabo Silas que tentou articular uma greve, mais foi traído e abandonado por todos. Teve como consequência a exclusão e só voltou às fileiras da Corporação na década de1990. Esse breve histórico servirá para que possamos compreender que a luta classistas por melhorias salariais, dignidade, condições de trabalho não vieram de agora e sim de muitas décadas atrás. Estes homens bravios gravaram seus nomes nos anais da Polícia Militar do Maranhão. As lutas classistas desde o século passado são alvos de reivindicações por parte dos militares estaduais. Em 2011, os policiais e bombeiros militares entraram em greve. Naquele ano, vivia-se um clima de euforia e insatisfação das praças. Esse clima aconteceu devido à inércia aqui na capital das entidades. É sabido que alguns interesses individuais foram preponderantes na greve. Ficou bastante claro nos anos posteriores a greve. As ditas lideranças se desviram de seus objetivos. Mais isso é outra história. Com um clima de animosidade na capital e algumas lutas que se recrudesceram novamente. Policiais militares e bombeiros começaram a reivindicar e a lutarem pelas causas militares. Foi um período de grande turbulência, movimentação, debates, conferenciais, seminários e reuniões que culminaram com a greve em novembro daquele ano. Na greve viveu-se um período de um Estado “socialista”, onde tudo era comungado. Os mesmos objetivos, ideias, anseios e propósitos. Tudo parecia bem. Porém, assim que terminou a greve as mascaras caíram e joio começou a brotar no meio do trigo. De lá para cá o que se observou foi o egocentrismo, individualismo e os interesses pessoais. Alguns reivindicaram uma suprema liderança. O acordo feito entre governo e militares esvaiu-se no ralo do esgoto. As ditas lideranças foram atingidas pelas suas vaidades e ascensão pessoal. Os objetos do acordo: Cargo horária, lei de promoção e código de ética viraram arquivos para história da Corporação. O Movimento que tanto emocionou e que fez despertar nos militares a semente da liberdade e de dias melhores ficaram na sombra do passado. O lema: Unidos Somos Fortes, virou bandeira política e ficou somente no discurso. Não há união e o que passar disso é meramente ficção, invenção e hipocrisia de alguns líderes sem liderados. A luta classista dos militares estaduais voltou para um estado de morbidez quase que absoluta. Os seus referencias e seu gigantismos que mobilizou todos os militares do Maranhão, hoje vivem somente de sua histórica e heroico passado. Fazendo um paralelo de forma contrária com a PM de Brasília, que por lá eles fizeram uma Operação Tartaruga. Aqui vivemos não a operação tartaruga, mais sobre tudo uma luta classista a passos de tartaruga. É evidente que nem tudo está perdido, há ainda alguns remanescentes sérios que lutam em defesa da categoria. Procurando as melhorias e quem sabe tentar resgatar os tempos áureos do movimento dos militares. Sou apenas um paredista que presenciou e viveu todas essas glórias do passado.